AXOLOTLE, O MONSTRO D'ÁGUA
Axolotle - Ambystoma mexicanum
O axolotle (Ambystoma mexicanum), também conhecido como axolote, é um nome asteca, que numa tradução aproximada significa "monstro aquático", e na mitologia asteca era a evocação do deus Xolotl.
Sua classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Caudata
Família: Ambystomatidae
Género: Ambystoma
Espécie: A. mexicanum

Características:
Axolotes, conhecidas também como "monstros da água", são anfíbios um tanto quanto peculiares. A começar pelo fato de viverem sempre em ambientes escuros e de água doce, possuírem três pares de brânquias externas e terem alta capacidade regenerativa. Além disso, passam toda ou quase toda a sua vida em fase larval, embora se apresentem com capacidade de reprodução - modalidade esta denominada neotenia.
Estes animais endêmicos do México, de aproximadamente 25 centímetros de comprimento, se alimentam de girinos e pequenos invertebrados, como insetos, crustáceos e minhocas. Podem viver por aproximadamente doze anos, reproduzindo-se cerca de doze meses após seu nascimento, entre junho e dezembro; ou em cativeiro, quando se promove uma brusca diminuição da temperatura.
O macho deposita seu esperma em uma bolsa, sendo este recolhido pela fêmea, por meio de sua abertura cloacal. Aproximadamente um dia depois deste evento, ela desova em pedras e/ou folhas. As larvas eclodem cerca de duas semanas depois, e se apresentam com cerca de um centímetro de comprimento.
Em razão de sua capacidade de regeneração, inclusive de regiões do sistema nervoso ou mesmo membros inteiros, a axolote é bastante estudada por diversos pesquisadores, sendo a esperança daqueles que tiveram membros amputados ou perda de tecidos de outras regiões do corpo.
Onde vive:
Ao contrário do que ocorre com seus parentes próximos, como sapos e rãs, que passam a viver na terra quando deixam as formas larvais, os axolotes permanecem na água por toda a vida.
O seu único habitat natural consiste dos lagos próximos da Cidade do México, em especial o lago Xochimilco e o lago Chignahuapan, este último no estado de Puebla. Atualmente, no lago Chignahuapan, são raramente encontrados. Isto se deve à predação dos seus ovos por espécies não autóctones introduzidas pelo homem. Além disso, a capacidade de regeneração do axolote também traz alguns problemas, uma vez que em certas zonas do México é apreciado em caldos e pela medicina naturista (como vitamínico).
Devido a invasão humana na região desses lagos e a drenagem de algumas áreas dele, o habitat do axolotle diminuiu. A poluição trazida pelo turismo na região causou a diminuição da população desses animais, já que são muito sensíveis. Hoje são mais encontrados em criadouros para manutenção e preservação da espécie.

Regeneração:
O axolote é capaz de regenerar, por meio de desdiferenciação celular, membros inteiros, que são constituídos por estruturas não comumente regeneradas, como nervos, musculatura, ossos e vasos sanguíneos. É capaz ainda de reparar completamente metade de seu coração ou cérebro. Tais propriedades são frequentemente analisadas em laboratório.
Estado de conservação:
Infelizmente, poucos exemplares são encontrados na natureza. A captura para o comércio ilegal e alimentação, juntamente com a perda de habitats são fatores que contribuíram para que se apresentassem, segundo IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), com status de conservação criticamente em perigo.
Os últimos estudos da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) estimam que sua extinção poderia chegar antes de 2020. Uma terrível notícia, além disso, porque o axolotle "não é um animal", segundo o escritor argentino. De acordo com a mitologia, a civilização mexica o considerava a reencarnação do deus Xolotl, que foi condenado a viver como um monstro aquático depois de ter se negado a sacrificar sua vida no fogo para que o sol e a lua girassem. Sua presença nos murais de Diego Rivera e nos textos de Octavio Paz, fez com que se tornasse um símbolo do México.
O escritor Francisco Goldman o define em uma de suas novelas como um animal de "alegre cara extraterrestre e braços e mãos de macaco albino". Por seu rosto, bem que poderia ser também o protagonista de uma série de desenhos animados. Além das curiosidades sobre o seu aspecto, o axolotle vive uma triste realidade: tem os dias contados. No primeiro censo realizado em 1998 foram encontrados nos canais 6.000 exemplares por quilômetro quadrado; no de 2003, a população baixou para 1.000 por quilômetro quadrado; e no de 2008, apenas 100 exemplares foram encontrados no mesmo perímetro, de acordo com a Academia Mexicana de Ciências.
Com a intenção de contribuir para a conservação do meio ambiente, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) proclamou as chinampas de Xochimilco (pequenos terrenos, antigamente flutuantes, onde se cultivam flores e verduras) Patrimônio da Humanidade em 1987. O reconhecimento está ameaçado devido à piora de seu estado provocada pelo avanço da urbanização. A região dos canais, além disso, é uma área recreativa coberta amplamente pelas barcas de turismo.
Há 17 espécies diferentes e a diminuição na população se deve ao escoamento de águas residuais aos canais, à construção de casas e à introdução de espécies como a carpa e a tilápia, que comem os axolotles. "As espécies predadoras foram introduzidas pelo ser humano para a pesca esportiva. Apenas dois casais são suficientes, porque podem colocar uns 300 ovos, aproximadamente. A população dessa região sabe que não deve fazer isso, mas desta forma ajudam na ida de turistas, o que representa entrada de dinheiro", assegura o biólogo Raúl Rivera Velázquez, da Faculdade de Estudos Superiores Iztacala da UNAM. O especialista trabalha há seis anos com esses animais. "A pele deles é muito permeável. Qualquer toxina pode afetá-los. É por isso que já não há exemplares no lago de Xochimilco, porque as águas foram contaminadas". Neste sentido, os axolotles são muito delicados e qualquer pessoa que trabalhe com eles deve seguir à risca estritas medidas de higiene: "Nossa gordura, cremes ou resíduos de comida nas mãos podem obstruir seus poros e matá-los", diz Jesús Correa, um jovem de menos de 30 anos que dirige A Casinha do Axolotle, um dos 20 centros dedicados à reprodução do animal no entorno de Xochimilco.
Além da perda do ecossistema, com a água contaminada, e da introdução de espécies predadoras nas águas, Correa considera que a mudança da atividade produtiva na região contribuiu para a piora das condições em Xochimilco. "Antes cultivavam-se apenas hortaliças nos lagos. Agora se semeiam plantas ornamentais, com terras diferentes. Ao mesmo tempo, aplicam-se produtos químicos e pesticidas e estes escorrem para os canais, matando os animais."
"Há uma contradição entre o turismo, o crescimento da população nas redondezas de Xochimilco e o dano que tudo isso provoca ao meio ambiente", afirma o diretor do parque ecológico, Erwin Stephan Otton, que admite não conseguir dar uma cifra exata do número de axolotles que ainda restam, porque é difícil contabilizá-los.
"Há muitos centros que se dedicam à reprodução do axolotle. A maioria se encontra em ótimas condições e possui uma quantidade grande", explica Jesús Correa. "Está sendo implementada a criação de cativeiros dentro dos locais destinados às chinampas. A solução passa pela recuperação dos canais e pela criação de um habitat seminatural para os axolotles, para que não vivam mais em tanques fechados. Agora se busca tirar a espécie da ameaça de extinção. Depois já poderão ser autorizado esses usos."
Antigamente, o axolotle era utilizado na medicina para combater problemas respiratórios e a desnutrição infantil, e também como alimento em alguns pratos típicos da gastronomia mexicana. "Agora o comércio de axolotles para esses fins está proibido. Com isso, o seu preço no mercado negro aumentou: um casal de dois anos pode custar entre 2.000 e 2.500 pesos (entre 350 e 440 reais)", afirma Correa.
O cuidador reconhece que uma vez, quando era criança, provou a carne do axolotle. Hoje comenta que não poderia: "Você ganha carinho com o tempo". Como o homem do conto de Cortázar, que vive obcecado tratando de averiguar qual tipo de sofrimento acompanhará essa espécie, Jesús Correa olha os aquários: "Na verdade, não sei. Talvez sejam sim conscientes de que os temos aqui para preservá-los, porque são os últimos, ou talvez pensem que somente os armazenamos por gosto", reflete, antes de terminar a entrevista. Já dizia Cortázar, os axolotles não são animais.

CURIOSIDADES
1. O axolote é um anfíbio, não um peixe
Além de "monstro aquático", uma das alcunhas mais famosas para os axolotes é "peixe que anda". Mas, saiba que esses bichos pertencem a uma classe diferente: a dos anfíbios.
Isto é, a mesma de sapos e pererecas. Na verdade, os axolotes são um tipo de salamandra. Ou seja, eles fazem parte da ordem de anfíbios caudados e com aparência de lagarto.
Por isso, pode ser que você tenha conhecido esse bichinho peculiar sob o nome de salamandra axolotl.
2. Seu nome é uma homenagem a um deus asteca
Bastante antigo, o axolote é original do México e está presente no país desde antes da chegada dos espanhóis. Tanto é, que ele faz parte da mitologia local, e seu nome é prova disso!
Reza a lenda que esse animais marinhos diferentes seriam a reencarnação do antigo deus asteca Xolotl, responsável pelo fogo e pela iluminação.
Descrito como um deus com esqueleto de homem e cabeça de monstro. Não à toa, sua figura lembra muito a de uma salamandra aquática com brânquias externas.
3. Ele é um animal neotênico
Em biologia, a neotenia é um fenômeno caracterizado por quando uma espécie mantêm suas características larvais mesmo depois de chegar à fase adulta.
Lembrando que os axolotes são uma espécie de salamandra, o normal é que os animais dessa ordem se desenvolvam na água, tornando-se terrestres após a metamorfose.
Os axolotes, contudo, até podem passar por essa mudança. Mas, em geral, permanecem a vida toda com características típicas do estado larval da salamandra, como brânquias externas e barbatana caudal.
4. O axolote é um grande aliado da ciência
Os únicos animais vertebrados capazes de se regenerar, as salamandras sempre chamaram a atenção de cientistas ao redor do mundo. Nesse sentido, os axolotes se destacam ainda mais!
Entre suas "habilidades", estão a capacidade de se recuperar de feridas sem deixar cicatriz. A regeneração de extremidades amputadas, e a reparação completa da medula espinhal em caso de lesões.
Ao identificar as sequências genéticas responsáveis pela regeneração dos axolotes, cientistas acreditam que, no futuro, eles poderão contribuir com a medicina humana.
5. Ele também já marcou presença nas artes
Mais uma prova de que não é de hoje que os axolotes despertam a curiosidade pode ser vista no mundo das artes. Graças à inclusão desses anfíbios em murais do pintor Diego Rivera, e em textos do poeta Octavio Paz, eles se tornaram verdadeiros símbolos do México.
Em 1956, o escritor argentino Julio Cortázar escreveu um conto inspirado nos axolotes.
6. Ele corre o risco de entrar em extinção
Atualmente, o lago Xochimilco, na Cidade do México, é o único lugar do mundo onde é possível encontrar axolotes "selvagens". E, mesmo assim, em pouca quantidade.
De acordo com um censo realizado de 1998 a 2008, em 1998, o lago contava com uma população de seis mil axolotes. Esse número já havia caído para mil em 2003, e para 100 em 2008.
Os pesquisadores apontam que as principais ameaças para a espécie são a poluição da água e a introdução de espécies, como carpas e tilápias, no lago Xochimilco.
7. Mas, o axolote pode ser criado em casa
Embora sejam cada vez mais raros na natureza, axolotes têm sido criados em cativeiro para fins que vão de estudos científicos a hobby. No Brasil, não existe uma permissão específica para a criação de axolotes de estimação.
Apesar disso, eles são a única espécie de salamandra que pode ser criada em casa. Se você ficou interessado, saiba que eles são bastante sensíveis e, assim como outros animais exóticos, necessitam de condições apropriadas.
Para começo de conversa, nunca coloque peixes no mesmo aquário com um axolote. Suas brânquias externas são chamativas para os peixes, que podem "brincar" com elas, incomodando os axolotes.
Já em relação aos parâmetros da água, o ideal é que ela tenha temperatura entre 16°C e 20°C, e faixa de pH entre 6.5 e 8.0. Os axolotes são muito sensíveis a substâncias tóxicas, por isso, tenha um bom sistema de filtragem e evite pegá-los nas mãos.